Réveillon de 2015. Nessa época do ano simbolizada pela renovação de sonhos, de objetivos e planos, recebo uma mensagem pelo WhatsApp das minhas meninas, Fernanda, minha filha, e Rebecca, sua namorada, contando que haviam ficado noivas e planejavam se casar até julho de 2016. Que alegria, que momento mágico! Acho que nunca antes os fogos de artifício e toda aquela energia positiva do ano-novo fizeram tanto sentido para expressar minha felicidade.
Minha vontade naquele momento era de compartilhar, de contar pra todo mundo, mas a Nanda me pediu segredo até que elas voltassem de viagem.
Quando nos encontramos, em janeiro, eu já havia planejado praticamente toda a festa. Tudo programadinho na minha cabeça: havia marcado vários locais para visitarmos, separado algumas fotos de bolo, e até uma lista prévia de convidados, que geralmente é a parte mais difícil de um casamento. Afinal, essa é a função da mãe da noiva, ter tudo e todos sob sua responsabilidade, certo? Errado! É claro que não. Mas elas, carinhosamente, me deixaram falar tudo o que queria e contar tim-tim por tim-tim minhas ideias – entenderam minha ansiedade, meu entusiasmo e meu estado de êxtase. Com o passar dos dias, elas foram organizando o casamento exatamente como desejavam, porém, me chamaram para participar de praticamente todas as reuniões.
Foram seis meses de preparação e de experimentar novos sentimentos, novas emoções, de risos, de realizações. As duas noivinhas foram supertranquilas e decididas nas escolhas. Eu, mãe-sogra, é que era a mais nervosa e mais ansiosa.
E novamente lá estavam elas, jovens, me levando pelas mãos por um caminho novo e desconhecido para nós três. Assim como fizeram no passado, quando a Nanda me contou sobre usa orientação sexual, vocês se lembram (se quiserem relembrar, clique aqui)? Também naquela época aprendi muito com elas, que seguiam na frente enquanto eu as acompanhava em cada descoberta.
“no que eu errei?”
Naquela época, lembro bem, a primeira coisa que pensei foi, “no que eu errei?”, e a segunda que “não iria casar minha filha”. Hoje, tenho absoluta certeza de que não errei em nada nas questões relacionadas à orientação sexual da minha filha, até porque isso não é uma condição que dependa de algum tipo de escolha ou estímulo.
O que percebo agora é que cada palavra da frase ‘no que foi que errei’ é carregada de muito egoísmo, angústia e medo. É um questionamento doloroso, porque queremos que nossos filhos tenham uma vida sem muitos sofrimentos, que não passem pela dor do bullying, do preconceito, da perseguição. Agora, graças a minha filha, vejo a homossexualidade como algo natural e entendo que o preconceito é que é uma opção.
E quanto ao casamento? Pois é, eu estava errada também. O sonho continuou o mesmo, só foi um pouco modificado e seguiu por um caminho diferente, mas igualmente lindo e carregado de amor.
Enfim, chegou o Grande Dia, e o Universo conspirava a favor. Foi uma cerimônia emocionante, memorável, repleta de simbolismos mágicos e deslumbrantes. Tudo saiu como planejado: a comida, deliciosa; as bebidas, geladinhas e bem servidas. Pista lotada, clima aconchegante de harmonia, perfume de amor no ar, convidados envolvidos e contagiados pela felicidade das noivas. Uma noite impecável.
“O amor é composto de uma única alma habitando dois corpos.”
Qualquer adjetivo que eu acrescente agora ainda será pouco para expressar toda alegria e orgulho que senti naquela noite. Como resumiu o pai da Nanda, “Foi uma noite perfeita! Show!”. E não me canso de ser grata a todos que compareceram e fizeram daquele momento algo tão especial e inesquecível tanto para as noivas como para as famílias – Sim! As famílias estavam lá: pais, padrasto, madrasta, avós maternos e paternos, tios, primos e, claro, muitos amigos.
Tentando agora descrever o que senti naquele 23 de julho, é um misto de paz no coração, de admiração ao vê-las e a certeza de dever cumprido. Essas foram as sensações que invadiram e permanecem no meu pensamento, no meu corpo e na minha alma. A clareza de que o amor transforma, acalma e vence – basta acreditar e querer.
Às minhas meninas, só posso dizer “obrigada” por me deixarem realizar meu sonho junto com o delas e por terem me transformado em uma pessoa muito melhor.
Rebecca, obrigada por fazer tão bem à minha filha e por ter trazido tanta alegria para nossa vida.
Finalizando, deixo meu recado: com tranquilidade, com paciência, tendo humildade e disposição para aprender, absorver, compartilhando experiências com outras pessoas que passaram por situações semelhantes, descobrimos que tudo o que sonhamos para os filhos é válido – o caminho pode ser diferente do que planejamos, do que conhecemos, mas quando se tem o carinho e a compreensão como companheiros de viagem, o destino será sempre o amor.
10 Comentários
Sou muito sua fã! Obrigada por alimentar o mundo com essa sua compreensão e esse seu amor incondicional! Beijos meus e da Má. <3
Marcia, parabéns pela maravilhosa festa de casamento das suas meninas e por este blog tão especial! Só para registrar, você estava tão feliz que várias pessoas, inclusive eu, não te reconheceram. Não era uma questão de maquiagem, de roupa… era uma felicidade que encheu tua alma de muita luz! com certeza, você era a pessoa mais feliz do mundo naquele momento. Dever cumprido amiga, isso mesmo, teu sonho de ver sua filha casada e feliz foi realizado. São duas meninas lindas que estão construindo uma família muito abençoada! Beijos.
Parabéns Márcia! O casamento foi lindo mesmo! Tanta alegria, tanta emoção! São lições de vida como essas que nos ensinam a sermos seres humanos melhores a cada dia! Beijo grande!
Tia Marcia, você é incrível! Um lindo Texto, carregado de sensibilidade e amor.
Por favor, nunca pare de escrever. Nunca desista de falar sobre o amor.
Muitos beijos!
Helga
Que belas palavras, Márcia! Também amei a cerimônia!!! E uma energia super bacana nos contagiou naquela noite. Mais uma vez, parabéns, tanto pela emoção de casar a Nanda, quanto pela organização do casamento! Que feståo!!!!! Bjusss
Marcinha, seu texto foi emocionante assim como o casamento da Nanda e Rebecca! Também concordo que o preconceito é uma opção e acredito que se nós aceitássemos e amássemos as pessoas como elas são, veveríamos em um mundo bem mais feliz!!
Márcia, que emocionante ler o seu texto. Você não gostaria de fazer parte de um grupo de apoio de pais de homossexuais? Estou trazendo de São Paulo o trabalho da Edith Modesto, conhece? O grupo é composto de pais que ajudam outros pais a aceitarem a condição homossexual de seus filhos. Seria uma alegria conseguir alguém como você para encabeçar um projeto como esse… Se tiver interesse, entre em contato comigo. Sou advogada como você, conselheira da OABRJ e presidente da comissão de direito homoafetivo.
Oi Raquel,
Fico feliz de estar alcançando o objetivo do blog. Por isso, claro que tenho interesse de fazer parte de um grupo de apoio de pais, pois sei bem o quanto é importante encontrar esse apoio. Podemos marcar para conversarmos.
Obrigada,
Marcia
Uma noite MÁGICA, a celebração perfeita do AMOR, da FAMÍLIA e da presença de DEUS… Uma inspiração pra que o mundo se torne cada vez mais, um lugar melhor pra se viver em harmonia…. Me sinto honrada por ter presenciado cada detalhe, e confesso que em uma breve oração,durante a festa eu pedi: “Meu Deus, que seja assim também comigo! ”
A festa que transbordou LUZ e ALEGRIA, é também uma prova do quanto uma decisão de respeito e aceitação, define a realidade… E tudo isso, pelas pessoas que rodeavam essas Meninas (que são verdadeiras Jóias raras) que entre tantas óticas, fizeram a sublime escolha da ótica do AMOR!
Márcia…. Eu sou tão grata pela sua vida… Parabéns pela sua missão, pela mãe maravilhosa que é e pelo ser humano que faz a diferença nesse mundo…
Vc é a prova de que MUITAS vezes o BEM vence o mal…. ✨✨
que texto lindo e emocionante!! adorei!! viva o amor
beijao