Vivências

Compreender e Aceitar

Se quiser estudar a si mesmo, olhe para o coração dos outros. Se quiser estudar os outros, olhe para dentro de seu próprio coração.
(Johann C. Friedrich von Schiller)

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04 de março de 2012. O dia que tinha tudo para ser simplesmente incrível, acabou sendo complexamente inesquecível.

E com toda complexidade que o termo “complexo” possa carregar.

Fui convidada para um happy hour na casa da minha filha. Filha única, amada. A casa estava uma graça, com flores ornando o ambiente, petiscos e bebidas bem preparados, tudo arranjado com carinho.

O fim de tarde transcorria animado, muitas conversas e boas risadas acompanhadas de uma deliciosa caipirinha. Estávamos eu, minha filha, minha irmã gêmea e minhas sobrinhas. Uma descontraída reunião de mulheres da família.

Já tendo tomado pelo menos uma caipirinha, senti que havia algo no ar… As meninas reunidas num canto se entreolhavam, conversavam baixo e riam como se algo estivesse sendo revelado.

– O que está acontecendo? Perguntei.

– Mãe, é que quero te contar que tenho uma namorada.

A caipirinha serviu bem para amortecer a queda livre da minha consciência quando o chão pareceu se abrir sob meus pés. Minha resposta foi rápida e sincera:

– Você está feliz? Porque é isso que importa e eu estarei sempre ao seu lado.

Naquele momento eu estava aceitando o fato de ela ser diferente, mas ainda não compreendia essa diferença.

“Tenho uma namorada”

Essa frase não saía da minha cabeça. Conversei com muitas pessoas e todos me apoiaram, em especial meu marido, pela forma como acolhi a orientação sexual dela e destacaram a coragem da minha filha em se assumir e querer que eu participasse da vida dela integralmente. Mas o que me doía, fundo, era o meu preconceito com a pessoa que mais amo.

É minha culpa? É genético?

Eu queria entender o porquê daquilo, como se houvesse algo a se responsabilizar: seria minha culpa por ter me separado quando ela era muito pequena? Teria ela demonstrado sinais e não percebi? Era genético? Eu buscava e necessitava de repostas.

Num primeiro momento, pesquisando na internet, quase entrei em desespero. Os textos eram esparsos, não havia sites dedicados a informações aos pais, não encontrava compartilhamento de outras pessoas que passavam pela mesma situação. Vi, sim, muitos relatos de jovens que se assumiram e sofreram, principalmente, com a rejeição da família.

Vencendo o preconceito

Decidi procurar por terapia, procurei o processo de autoconhecimento Hoffman, fui atrás de literatura, vídeos, e comecei a trocar experiências com mães que tinham passado pela mesma situação, pois sempre acreditei que só através do conhecimento é possível entender para quebrar paradigmas e superar o que nos parece impossível – no meu caso, o preconceito.

Com essas ferramentas, que são de uso contínuo, hoje posso dizer que tenho muito orgulho da minha filha e percepção da coragem dela ao decidir ser feliz. Com isso, nasceu em mim a sementinha de ajudar outras pessoas que estão passando por essa experiência familiar.

Chegou o momento de desabrochar o desejo de servir de apoio e ajudar pessoas a superarem o preconceito e seguirem em frente na vida, felizes, compreendendo e aceitando as diferenças.

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10 Comentários

  • Responder Flavia Pessoa 1 de julho de 2015 at 04:39

    Nasce um grd coração!

  • Responder Gabriela 1 de julho de 2015 at 16:37

    O Blog está incrível, lindo na forma e no conteúdo!!! Muito orgulho!!!! bjssss

  • Responder Guilherme 5 de julho de 2015 at 09:53

    Parabens pelo blog tia. Muito linda a forma que vc esta descrevendo como foi o seu processo. Fiquei emocionado. Bjo grande

  • Responder Monica Carvalho 9 de julho de 2015 at 01:34

    Márcia, querida amiga, como testemunha da sua história, posso afirmar que você se superou, se tornou uma pessoa ainda mais especial! De fato, a aceitação foi um processo que teve início, meio e fim, mas o fim teve um saldo muito positivo, uma união perfeita e amorosa entre mãe e filha. Linda história!

  • Responder SANDRA BUZELIN 12 de julho de 2015 at 18:52

    Marcia ,parabéns pela inciativa de esclarecer as pessoas assim estará ajudando muitas mães que estão passando por este problema.Fernanda é uma menina maravilhosa ,responsável com todos os predicados que uma mãe deseja para uma filha ,temos mais é que apoiarmos a sua escolha .beijos e sucesso neste projeto ,bjos

  • Responder Ana Luisa Barcellos 12 de julho de 2015 at 20:33

    Marcia, na vida temos que entender para depois fazer qualquer julgamento mas antes de qq coisa o importante é o amor, acredito muito nas relações independente de que forma são! Não existe certo e errado e sim a forma com que lidamos com as situações! Tenho certeza que seu testemunho ajudará muitas pessoas e ao meu ver é isso q vale a pena! Grande beij8 – Parabéns!

  • Responder Bela Fisio 20 de agosto de 2015 at 15:11

    Amamos o blog! E somos muito fãs do trabalho da Fernanda! Sucesso e felicidades para vocês! Beijos

  • Responder Uma noite especial e inesquecível, assim, foi a festa de casamento das minhas meninas | Beija Flor 15 de agosto de 2016 at 19:52

    […] quando a Nanda me contou sobre usa orientação sexual, vocês se lembram (se quiserem relembrar, clique aqui)? Também naquela época aprendi muito com elas, que seguiam na frente enquanto eu as acompanhava […]

  • Responder Maria Celeste Pedroso 16 de agosto de 2016 at 11:55

    Marcia, estou encantada com seu texto, lindo e profundo ! Desejo muitas, muitas, muitas felicidades para sua filhota ! ❤️

  • Responder Marcella Alvim Mendes 18 de agosto de 2016 at 23:37

    Q grata surpresa esbarrar com seus textos e seu blog!
    Sou mãe de duas crianças maravilhosas, uma menina e um menino, e tento, em tds as minhas atitudes e falas, demonstrar q eu sou a mãe deles, a q vai amar sempre (independente de, apesar de e exatamente por causa de qq coisa).

    Obrigada! Mt amor!!

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