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Como é possível curar o que não é doença? É uma vergonha ter um Secretário de Direitos Humanos que declara a “Cura Gay”

É muito triste abrir o jornal e ler a notícia de que o Secretário de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro, que tem entre os programas de sua pasta o Rio sem Homofobia, declarar a “Cura Gay”.

Mas, por outro lado, é muito bom encontrar vários depoimentos na internet rebatendo esse absurdo, porém  destaco o do Rodrigo Barbosa, que li no face e sintetiza exatamente o que penso, por isso faço das palavras dele as minhas.

Fiquei na dúvida se deveria escrever um post acerca da declaração do Sr. Secretário, mas também não consigo assistir a um retrocesso na proteção aos direitos fundamentais de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis e não me manifestar, mas com o texto do Rodrigo me sinto coma alma lavada.

Parabéns Rodrigo, sua família existe e é linda 👏🏻👨‍👨‍👦👏🏻

Abaixo a íntegra do texto:

Sr Ezequiel Teixeira,


Hoje eu acordei, ao lado do meu marido, com quem vivo há 13 anos, com a notícia de que o senhor acredita na cura gay. Eu, gay, nunca acreditei nisso. E nunca acreditei porque tenho consciência de que não estou doente.
Desde muito pequeno “sentia que era diferente dos outros meninos”. Sinto-me obrigado a colocar essa frase entre aspas porque é algo que foi dito muitas vezes, por muitas pessoas que, assim como eu, não se sentem doentes.
Muitos anos antes do meu nascimento, e acredito que do seu também, em 1948, o homossexualismo passou a existir na Classificação Internacional de Doenças (CID) sob código 320, dentro da categoria de Personalidade Patológica, na subcategoria de Desvio Sexual.
Acredito que o senhor saiba que no dia 17 de maio de 1990 o homossexualismo deixou de fazer parte da CID. Eu não lembro desse marco, tinha apenas 9 anos, mas lembro que naquele mesmo ano perdemos Cazuza. Quem queria um Cazuza diferente daquele que tivemos? Não, não queremos cura alguma.
Aos 14 anos comecei a me relacionar com homens mais velhos, já que os meninos da minha idade não contavam uns aos outros sua orientação sexual. Era 1995. E lendo o jornal de hoje já nem sei se posso dizer que era uma época mais careta, mas certamente menos esclarecida. Eu não tinha abertura para conversar com meus pais, amigos, escola. Por vezes, me arriscava a entrar no carro de pessoas das quais eu nem sabia o nome em busca de alguma aventura. Outras vezes apenas suprimia meus desejos e as lembranças hoje são de uma infância e adolescência muito tristes, tentando esconder de todos que eu conhecia quem eu realmente era.
Em algum momento eu consegui me libertar do julgamento de pessoas que acham que a homossexualidade (como passou a ser chamada, porque não se trata de uma doença, e então não precisa de cura) seja algo errado, um desvio, uma escolha, e passei a ser feliz.
Hoje, casado, pai de um menino de 6 anos que é uma felicidade na minha vida, digo com total certeza que não há nada a ser curado aqui. Olhe para a foto da minha família e me diga, sinceramente, se tem algo a ser curado aqui. É uma delícia ser gay, Sr Ezequiel, acredite. Aliás é uma delícia poder ser quem você é ou quer ser. O único momento em que eu me sinto entristecido, é quando abro o jornal e vejo que uma pessoa que está no cargo de Secretário de Direitos Humanos faz declarações como essas que todos lemos na manhã de hoje.
Mas não há cura para o mau-caratismo e a sem-vergonhice, não é mesmo? Que vergonha em ter o senhor como Secretário. Que vergonha!

foto do arquivo pessoal do Rodrigo postada no face.

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